Entrevista com Marcellinho


O DONO DA BOLA - Marcelo Schilling tem uma forte relação com a bola. Desde muito criança aprendeu a lidar com ela. Foi uma paixão à primeira vista. Começou jogando futevôlei e só depois descobriu o futebol. Quando a bola estava aos seus pés ela sempre recebia um tratamento vip. Logo cedo aprendeu a driblar, a correr com a bola e ser objetivo com ela. Cresceu com a chama do futebol correndo em suas veias. Desde sempre soube que era jogando bola que se realizava como ser humano. E graças ao seu talento, seu toque de bola, seu suingue em campo e sua capacidade de fazer gols seu nome ficou famoso nas areias de Copacabana. Todos conhecem, respeitam e admiram o futebol de Marcellinho. Seu jeito de típico garoto carioca, seu temperamento cordial, sua personalidade otimista o transformaram numa pessoa querida no meio esportivo. Marcellinho é um aplicado estudande de Administração, trabalha na sorveteria Alex que fica atrás do Hotel Copacabana Palace, de propriedade de sua família. Marcellinho é movido pela paixão, como todo nativo de escorpião (ele é de 12 de Novembro). É apaixonado por uma moça chamada Júlia, a quem dedica todos os seus gols. Na entrevista a seguir Marcellinho fala de sua paixão pelo futebol.
1 - O que o futebol significa para você?
Paixão. O futebol é a minha vida.
2 - Em que momento você percebeu que o futebol era algo que fazia parte da sua vida?
Nasci em 1989, então o primeiro grande acontecimento de futebol que vi foi a Copa de 94, assisti a todos os jogos do Brasil, colecionava o álbum de figurinha e foi através dele que aprendi a ler e a escrever, o futebol é a minha vida! Entrei na escolinha de beach soccer em Ipanema com 5 anos, e lá fiz vários amigos, em especial Bernardo e Fred (jogadores do Areia). Meu avô jogava bola comigo na garagem do prédio, me ensinava a chutar com a direita e cabecear, e minha tia me ensinava a chutar com a esquerda, ela dizia que todo craque tinha que chutar com as duas pernas...
3 - Como você vê o futebol de praia do Rio de Janeiro?
Sempre ouvia histórias do Bené (ex zagueiro do Torino e avô do Fred), que me contava que o futebol de praia era questão de status e ser campeão era para poucos. Sempre joguei na areia, mas comecei a ver o futebol de praia a pouco tempo e dá para perceber que já mudou muito; o público infelizmente não é o mesmo, mas ainda dá tempo de conseguirmos atrair as pessoas nas tardes de sábado para ver o grande espetáculo que é o futebol de areia.
4 - Quem são os jogadores do futebol de praia que você mais admira?
Como disse, comecei a acompanhar a pouco tempo. Ouvia muito, mas vi pouco. Posso falar dos que eu vi, e três sempre me chamaram a atenção: os gêmeos Marco e Marcio (ex atletas do Areia), e um em especial. Dizemos que na areia é difícil jogar porque a areia engana, mas nunca vi a areia enganar o Magal, acho que ela tinha medo, medo não, respeito, parecia que ele jogava como se estivesse no campo, ele desfilava, era lindo vê-lo jogar, sendo beach soccer, ou no de 11, esse foi o maior craque que já vi jogar, poucos fazem a diferença em um jogo, e esse fazia a diferença em todos.
5 - Atualmente você joga pelo Racing. Como é a tua relação com o time? Em que outras equipes você já jogou?
É maravilhosa. Tenho o prazer de jogar ao lado dos meus amigos Grisolia, Marquinhos, Guga, Lage, Bruninho. Somos uma família, conversamos e ajudamos uns aos outros para que o resultado seja o esperado. Comecei a jogar o campeonato de praia ano passado. Felipe Knust me levou para o Copacabana para ver como era, falou que precisava de um atacante e sempre tive vontade de jogar o campeonato, mas nunca tive oportunidade. Fiz uma campanha boa pelo Copa, levamos a equipe às quartas de final do campeonato e fui o artilheiro mas tive que deixá-los na mão por causa do futevôlei que naquele momento era mais importante. Quando voltei, o time já tinha sido desclassificado e tive o convite do Bruninho para ir para o Racing. Saí do Copacabana mas tenho um carinho por todos os jogadores e especialmente pelo PC (Presidente do Copacabana).
6 - E o futebol profissional? Você não gostaria de estar jogando no Engenhão, vestindo a camisa de um dos grandes times do Rio?
Lógico, como toda criança a gente sonha em vestir a camisa do time de coração, ouvir o nome sendo ovacionado pelos torcedores, mas quando a gente aprofunda um pouco no meio do futebol vê que há muitas barreiras pelo caminho, e são gigantes.
Tive a chance de ir jogar no Fluminense, mas tudo era muito difícil, tinha que sair do colégio sempre mais cedo, sem almoçar para estar em Xerém 13:00 para treinar e chegava em casa 20:00, ficava acordado de 6:00 até 22:00; para uma criança de 10 anos, muito difícil. Tive sempre o apoio do meu avô e da minha família para fazer o que quisesse do meu futuro, mas sempre ouvia também que o estudo pode mudar a vida de uma pessoa. Não me arrependo de ter desistido do futebol de campo, mas corro atrás da seleção de beach soccer. Quem sabe !?
7 - Qual o time que você torce? E quem são os jogadores do futebol profissional que você mais admira? Quem são os seus ídolos no futebol?
Uma vez Flamengo, sempre Flamengo, hehe... Sempre fui fã do Túlio Maravilha. No meu começo jogando futebol, as pessoas me comparavam a ele pelo faro de gol, e pela objetividade, até hoje algumas pessoas não me chamam pelo nome e sim pelo apelido: Túlio. Tenho o prazer de ser amigo do Renato Gaúcho e do Edmundo. Algumas pessoas veem os dois como arrogantes, prepotentes, porque não conhecem os dois. Falar de pessoa pública é muito fácil, quero ver passar as dificuldades que eles passam e andar na rua sempre sorrindo para não ser tachado de marrento e coisas do tipo. Sou Flamengo mas não tenho como ídolo o Zico, admiro demais ele, mas como não o vi jogar não posso considerá-lo como ídolo. Ídolo é quem você possa se espelhar nas atitudes dentro e fora do campo. Como via, batia palma e adorava o jeito de jogar e o respeito pelos outros profissionais os quais enfrentou, tenho o Magal como ídolo.
A gente conhece o Ronaldo como "Fenômeno", mas igual ao baixinho, não tem, esse tirava onda...
8 - Magal, veterano jogador de futebol de praia, disse que você é um dos maiores craques do futevôlei. Fale um pouco sobre esse esporte.
Haha, ele só disse isso porque foi ele quem me ensinou a jogar futevôlei. Ele e o Helinho (maior craque do futevôlei), então tem que falar bem da cria né? Jogo futevôlei desde os 5 anos, comecei a jogar futevôlei um pouco antes do futebol, e ouvia o Magal falando que o futevôlei te dá habilidade e que ajuda no jogo aéreo, já que a seleção de beach soccer sempre jogava pelo alto. Como tudo em que faço tento ser um dos melhores e comecei a treinar futevôlei na escolinha do Renato Adnet (Dunga), aonde aperfeiçoei todas as técnicas necessárias para jogar. Só com 19 anos que entrei em campeonatos, e logo no primeiro campeonato brasileiro fui 2º com o Café e depois daí consegui grandes conquistas: como 3º no mundial de duplas em Balneário de Camboriú e 3º no mundial 4x4 que aconteceu esse ano na praia de Ipanema.
Gostaria de ver o futevôlei como um esporte olímpico, mas quando se tem uma pessoa tentando empurrar o esporte para frente, tem outras pessoas que não deixam, e que só pensam no próprio bolso. O futevôlei começou antes do beach soccer, mas olha aonde o beach soccer está, tem Copa do mundo e é chancelado pela FIFA. E o futevôlei, caiu no começo em mãos erradas, mas confio no Dunga para mudar esse panorama.
9 - Vamos ter uma Copa no Brasil em 2014. Qual a sua expectativa com relação a esse evento?
Gostaria de ter uma boa expectativa, mas é difícil. Falta muita coisa para fazer, e não seria só na Capital das grandes cidades, camuflar a Rocinha pintando as casas da frente de rosa e azul para ficarem bonitinhas enquanto no interior da cidade as pessoas não tem saneamento básico, é um absurdo. O governo anuncia obras bilionárias, mas será que realmente é necessário gastar isso tudo? Quanto mais obras há para fazer, mas eles botam dinheiro no bolso. Por mim não teria nem Copa e nem Olimpíadas e infelizmente não vejo melhorias na nossa política, já que os honestos morrem. No campo não vejo problemas, Brasil ganhará mole, mas será a mesma coisa que aconteceu em 1998: O país vai ser campeão para o povo ficar contente e camuflar os problemas do país.
10 - Que mensagem você gostaria de mandar para seus companheiros do futebol de praia?
O campeonato está começando, vamos fazer uma disputa pelo título sem violência e com paz, dentro e fora do campo. Rivalidade vai existir sempre, mas se for feita de forma limpa, ficará muito mais bonito. Quero agradecer ao blog, pela oportunidade e espaço que dá aos jogadores, é tao pouco o meio de comunicação do futebol de praia e tão pouco divulgado, que quem o faz merece respeito e admiração.
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